Através dos textos estudados na interdisciplina de Libras durante este sétimo semestre e do presente trabalho elaborado a partir de minhas aprendizagens pude constatar que durante muito tempo as pessoas com algum tipo de deficiência foram excluídas da sociedade, sendo consideradas como indivíduos inferiores.
As pessoas surdas eram vistas como seres irracionais, não educáveis e sem quaisquer direitos humanos. Eram privadas da alfabetização e educação. Mas, apesar da história dos surdos iniciar assim triste e silenciosa, o passar do tempo evidencia grandes transformações.
Foi somente a partir de 1500, na Idade Média, que a história dos surdos começou a mudar. O médico italiano Girolamo Cardano (1501-1576), declarou que surdos poderiam ser ensinados a ler e a escrever sem a utilização da fala. "Cardano reconheceu publicamente a habilidade do surdo em raciocinar, pois segundo ele a escrita poderia representar os sons da fala ou idéias do pensamento, sendo assim, a surdez não seria um problema para o surdo adquirir o conhecimento" (Soares, 1999, p.17).
Mas este fato teve pouca repercussão na sociedade da época, pois a educação de surdos se destinava aos filhos de ricos e nobres da corte espanhola, afim de que estes adquirissem conhecimentos para administrar futuramente os bens da família. Pedro Ponce de Leon (1510-1584) era um monge espanhol que se dedicou a educação desses surdos utilizando-se além de sinais, treinamento da voz e leitura dos lábios.
Posteriormente outros professores também se dedicaram à educação dos surdos. Entre eles, destacaram-se: Abade Charles-Michel de L´Epée (1712/ 1789- fundou a primeira escola pública, o Instituto Nacional para Surdos-Mudos em Paris, criando alguns métodos de ensino), Samuel Heinicke (1727/1790- fundou a primeira escola oral de surdos na Alemanha baseado no oralismo), Jean Massieu (1772/1845- um dos primeiros professores surdos, francês, lecionou baseado na Língua de Sinais no Instituto Nacional de Surdos-Mudos em Paris), Laurent Clerc (1785/1869 um dos professores surdos, utilizava-se da Língua de Sinais em suas aulas) entre outros.
Como se pode observar desde épocas remotas até os dias de hoje muitos professores divergem quanto ao método mais indicado para ser adotado no ensino dos surdos. Uns acreditam que o ensino deveria priorizar a língua falada (Oralismo), outros apostam no uso simultâneo de uma língua oral e de uma língua sinalizada (Comunicação Total), há os que preferem o uso de duas línguas, a Língua de Sinais em primeiro lugar e no caso do Brasil a Língua Portuguesa (Bilingüismo) e os que reconhecem o desenvolvimento natural da língua de Sinais sem interferência da oralidade abrindo espaço para a construção de uma Identidade Surda (Pedagogia Surda).
Muitas escolas de surdos ainda utilizam um ensino estruturado apenas por ouvintes, sem a participação de alunos ou de professores surdos, não respeitando a cultura, língua e identidade das pessoas surdas. De acordo com o texto "Pedagogia Surda":
"Quando o professor ouvinte sabe Língua de Sinais, pode comunicar-se de maneira satisfatória com seu aluno surdo. Porém, quando o professor também é surdo, além da mesma comunicação, ambos possuem identidade surda, o que contribui para uma harmonia ainda melhor entre professor-aluno. Nesses casos, a sala de aula passa a ser um lugar de ricas trocas de conhecimentos entre ambos, as quais ocorrem de forma natural, além de o aluno encontrar na figura do professor um modelo de adulto surdo.
No caso do professor ser ouvinte e não sinalizador, a presença de um instrutor ou voluntário adulto Surdo é muito importante para esclarecer aos alunos o que o professor fala e vice-versa. Outro aspecto a ser melhorado visando a verdadeira inclusão do aluno surdo na escola segundo o texto: Inclusão, é com relação ao oferecimento dos conteúdos aos alunos surdos pela língua de sinais, através de recursos visuais, tais como figuras, língua portuguesa escrita e leitura, a fim de desenvolver nos alunos a memória visual e o hábito de leitura. Ressalto ainda outro aspecto relevante: a consideração do sujeito surdo como um sujeito que apresenta uma diferença lingüística e cultural, logo, diferença não pode ser considerada sinal de deficiência, muito menos de incapacidade ou inferioridade.
Infelizmente ainda não tive a oportunidade de conhecer nenhuma instituição de surdos, mas acredito para uma participação ativa dos surdos não só na escola, mas também na sociedade, é necessário que no ensino se considere a Língua de Sinais como primeira língua e, a partir deste ponto se ensine a segunda língua que, no caso do Brasil, é o português que pode ser na modalidade escrita ou oral. Esta é a maneira mais viável em meu ponto de vista de cada vez mais os sujeitos surdos tornarem-se líderes, indivíduos ativos na sociedade onde vivem.
Referência:
Texto de Harlan Lane, retirado do livro "A Máscara da Benevolência: a comunidade surda amordaçada", que apresenta a política de ensino de surdos em diferentes países.
Disponível em: http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade3/atividades.htm Acesso em: 14 nov. 2009.